sexta-feira, 9 de março de 2012

Quem cria raiz é árvore!

Nada contra as árvores, pelo contrário, adoro a natureza e toda a beleza dos mais variados tipos de árvores que existem no planeta. Mas acho curioso que muitas pessoas me questionam sobre minhas raízes, se eu e minha família não deveríamos ter mantido nosssas raízes na cidade onde fomos criados, no caso o Rio de Janeiro. Talvez seja a minha descendência espanhola-cigana que sempre me fez ter uma queda pelo nomadismo, fora a minha infância de eternas mudanças - nasci em Brasília e fui pro Rio com 2 anos de idade, e dos 2 aos 12 anos minha família se mudou 4 vezes, ou seja, quase a cada dois anos. Depois dos 18 até hoje já foram mais 7 mudanças! Sendo que duas delas não foram simplesmente mudanças de bairro ou rua, mas sim de cidades.

Em 2008 a nossa qualidade de vida no Rio de Janeiro estava insuportável. Muita violência (quase todos os dias víamos tiroteio no nosso bairro, a Tijuca), muito calor (no Rio é verão o ano inteiro, tanto que cansei de ir a praia nas férias de julho), muito caos urbano (eu levava duas horas no trânsito pra chegar no centro da cidade, e cada vez que tinha que sair de casa era um transtorno, sem contar a falta de educação dos motoristas de ônibus e das pessoas de uma forma geral - jogar lixo na rua por exemplo, é um hábito comum do carioca) e definitivamente viver de cultura por lá era impossível, mesmo com todos nossos esforços nos quatro anos anteriores, enfim, muito estresse e pouco retorno. Foi neste cenário que decidimos então doar quase todas nossas coisas, encaixotarmos o menos possível (apenas algumas roupas, cds, dvds e livros, além de uma máquina de lavar roupa), e enfiar tudo isso no bagageiro de um ônibus, pra percorremos 25 horas (na verdade levou quase 29) no trajeto Rio de Janeiro x Porto Alegre no dia 17 de janeiro de 2009. 

Essa nossa atitude até hoje é encarada como corajosa ou louca, mas na verdade, foi uma opção pela melhoria da nossa qualidade de vida e tem dado muito certo. Somente por causa dela, tivemos a oportunidade de fazer uma viagem fantástica, a nossa turnê cultural que chamamos de Família a Bordo, que percorreu 50 cidades em 100 dias, onde conhecemos tantos lugares que jamais teríamos ido se ainda estivéssemos imersos no caos urbano do Rio de Janeiro. Ao término da viagem, encaramos mais uma "pequena mudança", quase 300 Km de Porto Alegre a Sobradinho, no dia 6 de janeiro de 2012. E mais uma vez tem valido muito a pena, a cidade é uma gracinha, o povo é acolhedor, a natureza da região Centro Serra é deslumbrante, as oportunidades se ampliam a cada dia. 

Daí acho muito curioso quando ouço certas indagações do que uma carioca está fazendo em Sobradinho. E olha que não sou a única, esses dias foi me visitar no trabalho uma outra carioca, a Chris Branco, do bairro Campo Grande, que veio há dezessete anos pra acompanhar o amor de sua vida, um gaúcho que se formou em medicina na Ilha do Fundão e voltou para o Rio Grande do Sul casado com ela. 

Estranho como o ser humano às vezes tem este pensamento territorialista, encarando as pessoas de fora como forasteiros, que não deveriam ocupar cargos ou lugares importantes na cidade já que não são dali. Um pensamento até um pouco nazista, não é mesmo? Ainda bem que não são todos que pensam assim, imagina se nas épocas das descobertas os desbravadores e navegadores pensassem assim, teriam criado as raízes em seus países e jamais teriam descoberto novos mundos. Mas não me preocupo muito com isso, sei da minha vontade de contribuir para a cidade e estou trabalhando por ela como se fosse a minha cidade natal.

E minhas raízes? Como não sou árvore, não preciso delas para me nutrir...

quinta-feira, 8 de março de 2012

quinta-feira, 1 de março de 2012