quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Liberdade, de fato, não tem preço

8 meses, 10 dias e 6 horas de espera. A espera pelas passagens que nos trariam de volta para o Brasil. Eu me inscrevi no Programa de Apoio ao Retorno Voluntário em Portugal no dia 15 de Março. Foram longos meses de espera, muitas dúvidas, muitas incertezas, muito medo, muita pressão. Mas também foram momentos intensos, em que a minha relação com os meus filhos ganhou um significado ainda maior, se fortaleceu e vivemos momentos incríveis e inesquecíveis. A ansiedade por recomeçarmos nossa vida era muito grande, mesmo sem saber direito qual caminho seguir, mas com Dimi e Layla sempre me dizendo: "vamos voltar para o Brasil, mamãe!". A resposta do programa de retorno saiu em 8 de setembro, quando eles finalmente teriam as passagens para regressarmos. Ficamos os três muito felizes, estava tudo certo, tudo pronto. Mas chega o que seria o pior dia da minha vida. O dia 24 de outubro de 2016. O pai deles aparece em tribunal, depois de ter faltado duas audiências, de estar devendo 880 euros de pensão e de ter visitado-os 2 vezes em seis meses, me desqualificando como mulher e como mãe, fazendo este tribunal suspender o apoio ao nosso retorno, e uma juíza (uma juízA!!!) me propor entregar meu filho ao pai e voltar apenas com a minha filha para o Brasil, ou eu poderia perder os dois para um instituição, já que me encontrava em uma situação vulnerável.

Mais vale um pássaro na mão do que dois voando. Diga isso aos pássaros que nunca se separaram por mais de uma semana em cinco anos. Diga isso a dois irmãos que, não bastasse os traumas que enfrentaram nos últimos meses, deviam agora ser separados pelo capricho daquele que diz amá-los acima de tudo. E uma mãe que fez das tripas coração para manter esses irmãos unidos, que se virou em trezentas para ser mãe, pai, avó, avô, amiga, amigo, professora, médica, terapeuta, era agora encurralada na parede e julgada como se fosse a criminosa. O crime? Pedir para voltar ao meu país para dar uma vida digna aos meus filhos... Perdi meu chão. Perdi meus sentidos, caindo sentada na estação de metro em Lisboa, imaginando minha vida sem meu filho. Mas eu consegui me reerguer. Graças à força de centenas de pessoas que de fato se preocupavam comigo e com meus filhos, pessoas que sequer nos conheciam mas que perdiam o sono porque estávamos em uma situação intolerável. Eu descobri uma força ainda maior, e no dia 24 de novembro, exatamente um mês depois daquele fatídico dia, deixamos para trás o buraco na garagem no centro de Lisboa, partindo para o nosso maior desafio, rumo à nossa nova vida. Tudo, absolutamente TUDO, fluiu perfeitamente. Uma corrente muito forte, muito intensa de positividade nos trouxe em segurança para o nosso destino, o nosso país. Éramos uma família unida e feliz, voltando para casa. No primeiro voo, quando fecharam as portas do avião aconteceu o que eu esperei por tantos meses: a minha cura. Chorei de soluçar, com meus filhos emaranhados no meu colo e a única coisa que senti (e sinto desde então) foi PAZ.

Não tenho palavras para agradecer cada uma das pessoas que nos ajudaram. Foram muitas. Não preciso citá-las, cada um de vocês sabe o quanto nos ajudou. Aos amigos do Brasil que me apoiaram, me acompanharam em todos esses meses de luta, estamos aqui. Estamos no mesmo fuso horário, poderemos em breve nos ver, nos abraçar. Aos amigos que deixamos do outro lado do Atlântico, fica a nossa lembrança carinhosa e a certeza que nos reencontraremos em breve, em uma situação bem diferente.

A liberdade, a alegria de ver meus filhos vibrando de alegria, "quicando" de felicidade por estarem em casa, com pessoas queridas, sem medo, sem sufoco, não tem preço. Poderei dar a eles agora a vida que eles merecem. Gratidão. Gratidão. Gratidão. Eterna gratidão.



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