sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Obrigada vida! Vem 2017!

Como eu sempre digo e realmente acredito, tudo na vida tem um lado bom e até 2016, esse estranho ano que parece ter sido um filme dirigido por Quentin Tarantino, teve seu lado maravilhoso... Mas nós temos o triste hábito de lembrar mais das coisas negativas, das coisas ruins que aconteceram, pois elas parecem nos marcar mais do que as pequenas vitórias.

Um bom exercício para mudarmos esse hábito e atrairmos boas energias para nossa vida é exercemos a gratidão. E para nos ajudar a lembrar cada coisa a que podemos ser gratos, podemos fazer uma pequena brincadeira no início do ano, uma sugestão que vi na internet e achei muito interessante: pegamos um pote vazio e um bloquinho de papel. Para cada coisa boa que nos acontecer durante o ano, que seja uma pequena coisa, mas que nos faça feliz, que nos traga uma alegria, a gente anota no papel, dobra e coloca dentro do pote. No final do ano a gente abre o pote da gratidão e vai vendo quanta coisa boa o ano nos trouxe!

Eu não fiz isso no início de 2016, mas tenho na cabeça tudo que me trouxe muita alegria esse ano, então só posso agradecer por tanta coisa mágica e desejar que o lado bom de 2017 seja ainda melhor!

O meu "pote da gratidão" de 2016, seria o seguinte:

- Ver shows maravilhosos como Damien Rice, The Mission, Anathema, Iron MaidenBlack Sabbath, Nightwish, Tarja Turunen, Opeth, Napalm Death (acho que foi o ano em que mais vi shows de toda a minha vida);
- Realizar o grande desejo de ter o cabelo azul;
- Fazer finalmente a minha 5a tattoo;
- Conhecer pessoas incríveis, que farão parte da minha vida para sempre;
- Reencontrar com a Floresta da Tijuca, um momento mágico e inspirador;
- Conhecer o poder e a liberdade de viajar sozinha;
- Confirmar o quanto os meus filhos me amam e que nada pode nos separar;
- Descobrir uma força que nem eu imaginava que eu tinha;
- Confirmar que o amor, quando é verdadeiro, não há distância ou tempo que o apague, ele vive dentro da gente, nos confortando e iluminando.

Obrigada vida! Vem 2017!




quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Liberdade, de fato, não tem preço

8 meses, 10 dias e 6 horas de espera. A espera pelas passagens que nos trariam de volta para o Brasil. Eu me inscrevi no Programa de Apoio ao Retorno Voluntário em Portugal no dia 15 de Março. Foram longos meses de espera, muitas dúvidas, muitas incertezas, muito medo, muita pressão. Mas também foram momentos intensos, em que a minha relação com os meus filhos ganhou um significado ainda maior, se fortaleceu e vivemos momentos incríveis e inesquecíveis. A ansiedade por recomeçarmos nossa vida era muito grande, mesmo sem saber direito qual caminho seguir, mas com Dimi e Layla sempre me dizendo: "vamos voltar para o Brasil, mamãe!". A resposta do programa de retorno saiu em 8 de setembro, quando eles finalmente teriam as passagens para regressarmos. Ficamos os três muito felizes, estava tudo certo, tudo pronto. Mas chega o que seria o pior dia da minha vida. O dia 24 de outubro de 2016. O pai deles aparece em tribunal, depois de ter faltado duas audiências, de estar devendo 880 euros de pensão e de ter visitado-os 2 vezes em seis meses, me desqualificando como mulher e como mãe, fazendo este tribunal suspender o apoio ao nosso retorno, e uma juíza (uma juízA!!!) me propor entregar meu filho ao pai e voltar apenas com a minha filha para o Brasil, ou eu poderia perder os dois para um instituição, já que me encontrava em uma situação vulnerável.

Mais vale um pássaro na mão do que dois voando. Diga isso aos pássaros que nunca se separaram por mais de uma semana em cinco anos. Diga isso a dois irmãos que, não bastasse os traumas que enfrentaram nos últimos meses, deviam agora ser separados pelo capricho daquele que diz amá-los acima de tudo. E uma mãe que fez das tripas coração para manter esses irmãos unidos, que se virou em trezentas para ser mãe, pai, avó, avô, amiga, amigo, professora, médica, terapeuta, era agora encurralada na parede e julgada como se fosse a criminosa. O crime? Pedir para voltar ao meu país para dar uma vida digna aos meus filhos... Perdi meu chão. Perdi meus sentidos, caindo sentada na estação de metro em Lisboa, imaginando minha vida sem meu filho. Mas eu consegui me reerguer. Graças à força de centenas de pessoas que de fato se preocupavam comigo e com meus filhos, pessoas que sequer nos conheciam mas que perdiam o sono porque estávamos em uma situação intolerável. Eu descobri uma força ainda maior, e no dia 24 de novembro, exatamente um mês depois daquele fatídico dia, deixamos para trás o buraco na garagem no centro de Lisboa, partindo para o nosso maior desafio, rumo à nossa nova vida. Tudo, absolutamente TUDO, fluiu perfeitamente. Uma corrente muito forte, muito intensa de positividade nos trouxe em segurança para o nosso destino, o nosso país. Éramos uma família unida e feliz, voltando para casa. No primeiro voo, quando fecharam as portas do avião aconteceu o que eu esperei por tantos meses: a minha cura. Chorei de soluçar, com meus filhos emaranhados no meu colo e a única coisa que senti (e sinto desde então) foi PAZ.

Não tenho palavras para agradecer cada uma das pessoas que nos ajudaram. Foram muitas. Não preciso citá-las, cada um de vocês sabe o quanto nos ajudou. Aos amigos do Brasil que me apoiaram, me acompanharam em todos esses meses de luta, estamos aqui. Estamos no mesmo fuso horário, poderemos em breve nos ver, nos abraçar. Aos amigos que deixamos do outro lado do Atlântico, fica a nossa lembrança carinhosa e a certeza que nos reencontraremos em breve, em uma situação bem diferente.

A liberdade, a alegria de ver meus filhos vibrando de alegria, "quicando" de felicidade por estarem em casa, com pessoas queridas, sem medo, sem sufoco, não tem preço. Poderei dar a eles agora a vida que eles merecem. Gratidão. Gratidão. Gratidão. Eterna gratidão.



sábado, 10 de setembro de 2016

Celebrar e agradecer, sempre!

O dia 10 de setembro será para sempre uma data importante na minha vida. Primeiro porque foi o dia em que comemorei meu aniversário por 34 anos. Como assim, não comemora mais? Eu expliquei um pouco dessa história meio louca aqui neste texto... Confesso que ainda é um pouco conflituoso para mim e também curioso, porque em todos os meus documentos a minha data de nascimento continua como 10 de setembro, pelo menos por enquanto, então eu hoje poderia sair para comemorar e ganhar um jantar ou um champanhe de graça, além de ter recebido várias mensagens de parabéns de empresas e serviços que tem a minha data de aniversário no cadastro... Mas enfim, eu hoje não quero falar do meu (des)aniversário. 

O segundo motivo porque esta data será sempre importante para mim é que foi a data em que tomei uma das decisões mais importantes e difíceis da minha vida. Foi o dia em que, há exatamente um ano atrás, eu peguei meus filhos pelo braço, com a roupa do corpo, e decidi viver uma nova vida. Decidi me libertar de tudo que me fazia mal, decidi arriscar, entrar em um caminho totalmente novo e desconhecido. Eu sabia que não ia ser nada fácil, mas nenhuma mudança o é. E como Alice, eu tive que cair no buraco antes de conhecer o País das Maravilhas. E também como Alice, trilhei um caminho em busca da minha independência, aprendendo a equilibrar a busca da realização dos meus sonhos e dos sonhos dos meus filhos. 

Hoje agradeço e celebro esta decisão. Agradeço e celebro cada etapa, desde o atirar-me de olhos vendados, ao reerguer-me a pequenos, porém verdadeiros passos. Agradeço, inclusive, por tudo aquilo que eu desejei intensamente e não aconteceu. Porque tudo que não saiu como eu esperava, trouxe na sequência uma nova possibilidade, e cada nova possibilidade me trouxe mais conhecimento, mais harmonia e mais paz ao meu coração. 

Hoje agradeço e celebro cada pessoa que entrou na minha vida e cada pessoa que saiu dela neste último ano. Cada um que estendeu a mão ou que virou as costas. Cada pessoa que retornou, de alguma forma, para o meu caminho. Agradeço e celebro por ter aprendido tanto sobre mim mesma, por ter descoberto que eu posso continuar a me apegar, mas sem me apagar. Porque, como diria Clarice Lispector, serei sempre apego pelo que vale à pena, e desapego pelo que não quer valer...

Hoje eu celebro, não mais o meu aniversário de nascimento, mas o meu aniversário de libertação. E eu já recebi os parabéns por isso, de pessoas muito queridas que me acompanharam nessa jornada. "Parabéns pra ti, que um ano depois está aí sozinha se reerguendo." Sim, eu celebro esta vitória e a dedico aos meus amigos, que são a família que a vida e a estrada me deram.

E, curiosamente ou não, recebi esta semana uma mensagem que traduziu todo o meu momento, toda a minha energia e me ajudou a dar mais um importante passo nesse caminho de reencontro comigo mesma:

"Semelhante atrai semelhante. Se sentes que os teus relacionamentos, gostos e hábitos estão a mudar, não te assustes. Estas a sintonizar-te na tua nova vibração. Quando amamos, atraímos amor; quando somos tolerantes, atraímos tolerância, e assim é para tudo. Todas estas mudanças, tudo o que para trás fica, fazem parte do teu caminho espiritual. Entrega e confia. Se precisares de ajuda para encontrares o que procura, ora aos arcanjos Raguel e Chamuel. Pede lhes ajuda para te manteres fiel a ti mesma neste importante momento de mudança. Abraça a mudança, mas sê sempre fiel à quem és, aos teus sentimentos, crenças, e a ti mesma."

Hoje agradeço e celebro a minha nova vibração, a mudança e a fidelidade à mim mesma. Porque tudo está certo, porque tudo ainda está por vir...




domingo, 21 de agosto de 2016

Mãe fora da caixa

Dando uma olhada nos posts de amigos no face, descobri o blog Mãe Fora da Caixa e assim SUPER-HIPER-MEGA me identifiquei... Eu sou uma mãe TOTALMENTE fora da caixa! Amamentei muuuito deitada (os dois faziam meu peito de chupeta), nunca deixei meus filhos chorando no berço, nunca criei eles numa bolha (eles se sujam, comem do que cai no chão, se machucam, brincam, não tem parafernálias eletrônicas e são super saudáveis!), o Dimi dorme até hoje na cama comigo e a Layla quando dá dorme também... Quis muito ter os dois de parto normal mas na primeira fui vitima do sistema de planos de saúde e na segunda tinha risco para o Dimi, então fiz cesarea sim. Sempre criei eles para o mundo e estou criando eles sozinha há um ano e na boa, caguei para todas as convenções do "ser boa mãe". O que rola agora entre nós é muito companheirismo, muita amizade, muito respeito e muito amor. Eles sabem desde cedo que eu sou humana, mortal e que erro tanto ou mais que eles, mas que faço tudo com muito amor! Não há hipocrisia nem falsidade, há bons e maus momentos como em tudo na vida e eles sabem desde já que o mundo não é um mar de rosas, mas que a felicidade está nos pequenos detalhes... A gente ri junto, chora junto, tem horas que eles sabem que preciso de um tempo pra mim, assim como eles precisam de um tempo pra eles... Já ouvi coisas como "não gostei do teu comportamento com seus filhos", "não podes falar certas coisas com eles" e blá blá blá, mas eu crio eles sim de igual pra igual. Somos uma "cooperativa", com algumas regras é claro, mas acima de tudo com muito, mas MUITO AMOR. E não deveria ser isso o que conta?!

Foi pelo post abaixo que me identifiquei:

Mãe Fora da Caixa
E a gente escuta "Não pode dar o peito deitada.". É porque eles não sabem do nosso cansaço! "Não pode deixar dormir na sua cama." É porque eles não sabem como já tentamos fazer com que eles dormissem na cama deles! "Tem que deixar chorar no berço!" É porque eles não sabem como é difícil ver um filho precisando de um aconchego." O parto tem que ser natural" É porque eles não sabem como queríamos ter conseguido e não deu para ser! "Doce nem pensar." É porque não foram crianças, só pode ser isso "Ninar no colo está fora de cogitação" É porque não sabem que é um dos momentos que mais amamos! A sensação que temos é que sempre estamos fazendo algo errado.
A tão famosa culpa materna não é coisa criada na cabeça das mães e sim implantada na cabeça das mães pela sociedade, afinal a maternidade é instintiva e particular de cada mulher!
Só vamos nos livrar da culpa quando passarmos a ouvir mais nossos instintos e deixarmos a maternidade ser o mais natural possível, sem tantas regras, e sem tantos certos e errados ditados por uma sociedade que romantiza uma das coisas mais desafiadoras para uma mulher, ser mãe!
Texto: Thaís Vilarinho @maeforadacaixa
Imagem: @mindful_mamas


sábado, 30 de julho de 2016

Meu novo livro: Diálogos (reais) de um psicopata

Sempre brinquei que eu era uma "pseudo-escritora", porque tinha lançado uma vez um livro que foi vendido sob demanda pela internet, um relato de uma viagem que fiz em 2011. Agora, com mais dois livros finalizados, acho que posso me considerar uma escritora a sério, mas sem a pretensão de figurar entre a lista de mais vendidas ou mais lidas. Apenas a felicidade de poder compartilhar com quem quiser ler meus escritos, que são basicamente experiências baseadas nas relações humanas. E a felicidade vem agora na oportunidade de lançar o livro Diálogos (reais) de um Psicopata. 

O lançamento oficial será em Outubro e quem tiver interesse em comprar o livro, basta acompanhar a página oficial

Mais uma vez a gratidão que sempre me acompanha, e neste caso em especial, gratidão a todos aqueles que me acompanharam na jornada desafiante de publicar um livro como este. Espero que gostem e que possa contribuir para o debate construtivo sobre o assunto.






sábado, 23 de julho de 2016

Recordações de um 23 de julho...

Entro na grande sala da fazenda e escuto alguém ao piano. Uma bela melodia, que me remete a profundos sentimentos. Quem está sentado ao piano é um jovem estrangeiro, assim como nós. Comento com meu companheiro: "Ele toca bem!". Alguns momentos mais tarde, quando vamos todos para a casa ao lado da fazenda, para uma confraternização de despedida, passo por esse jovem e ele faz um comentário sobre a minha blusa: "Hum, Pink Floyd, really nice!".

Fazemos, eu e meu companheiro, a apresentação, enquanto o jovem nos filma e fotografa. Antes, durante o churrasco preparado em conjunto, cheguei a trocar algumas palavras com ele, arranhando o meu péssimo inglês e ele me ajudando a formar as frases: "I go in the past?" "It's I went". Era a primeira lição de inglês que ele me daria. Ao fim da apresentação, mais algumas conversas, mas o cansaço e o dever de fazer as malas para a partida no dia seguinte me obrigam a me recolher, acreditando que nunca mais veria aquelas pessoas novamente. 

Mas o mundo dá voltas. E muitas voltas. E aquela noite de 23 de julho daria sentido a todo o ano que a sucederia. Porque às vezes basta uma noite para dar sentido a uma vida inteira...

sábado, 16 de julho de 2016

E quando é tudo mentira?

Você tem um registro de nascimento, tem um nome, uma data de aniversário, uma identidade, uma história sobre a sua origem. E vive trinta e quatro anos acreditando naquilo. Passa trinta e quatro anos contando a história que lhe contaram. E aí você descobre que era tudo mentira... 

Até 2014, eu comemorava meu aniversário no dia 10 de setembro, achava que era virginiana, que tinha nascido em Brasília e que era neta de italiano e bisneta de espanhol. Sempre fui muito ligada à astrologia e achava que algumas coisas no meu signo não batiam nada comigo, exceto pela característica do perfeccionismo virginiano, um traço forte na minha personalidade. Na minha certidão, apesar da minha data de nascimento constar 10 de Setembro de 1980, o registro tinha sido feito apenas em Junho de 1981 e eu sempre achei isso um pouco estranho. Quando questionava a minha mãe ela dizia que tinha sido porque o meu pai demorou muito para ir me registrar por problemas burocráticos, porque também constava na minha certidão que eu tinha nascido em casa. E as fotos de mim bebê, só começavam em 1981, porque ela dizia que tinha perdido o álbum das fotos de quando eu era recém-nascida. Ou seja, tinha algumas informações ali que não batiam, que eu achava estranho, e aquele sentimento de que provavelmente eu tivesse sido adotada sempre me acompanhou, desde que eu me entendo por gente. Esse sentimento vinha mais de uma sensação de peixe fora d'água, porque nunca me identifiquei com absolutamente nada nos meus familiares. Mas existem tantos casos de "ovelhas negras" da família, que acabei me acostumando por ser uma dessas pessoas, a ovelha negra, a inadaptável, a rebelde sem causa. 

O meu relacionamento com a minha mãe sempre foi, na verdade, muito complexo, desde os primeiros anos da minha adolescência. E quando as pessoas me diziam que era assim mesmo, que o dia que eu fosse mãe eu a entenderia, eu tentava acreditar nisso, mas quando fui mãe aconteceu justamente o contrário. Comecei a questionar ainda mais o comportamento dela, suas atitudes e a forma como ela agia comigo. Eu sabia que tinha algo de muito errado, mas não sabia exatamente o que... 

Foi só em 2014 que a verdade começou a se revelar. E foi por causa de uma foto que coloquei no Facebook (benditas redes sociais), onde apareciam meu filho e meu pai e eu citava que os olhos azuis do meu filho vinham do avô. Uma filha do primeiro casamento do meu pai comentou então nesta foto: "Como assim? Você não sabe a verdade?" e depois um irmão dela também colocou em um comentário: "???????". Pronto, foi o suficiente para aquela minha dúvida sobre ter sido adotada se tornar algo concreto. No mesmo dia, questionei essa minha "meia-irmã" sobre o seu comentário e ela me disse que eu deveria ir atrás da verdade, que eu deveria conversar com meus pais, pois eu até podia ter descendência italiana e espanhola, mas eu não tinha nascido em Brasília, e sim no sul do Brasil. Nesta época, eu estava viajando com a minha família, no projeto Família a Bordo, e apesar de me intrigar muito com a revelação da minha irmã, o meu companheiro achou que aquela história era muito fantasiosa, que provavelmente era uma intriga de alguém invejoso, que não deveria atrapalhar a nossa viagem, os nossos planos... Tentei esquecer o assunto e seguimos com a nossa viagem, que terminou com a nossa mudança para Portugal. Mas como esquecer algo assim tão revelador? Ok, ser adotada não é nenhuma coisa do outro mundo, tanta gente é, e como eu sempre desconfiei, se fosse verdade mesmo seria até um alívio para mim... Mas como saber a verdade? Porque quando eu questionei uma vez o meu pai, em uma conversa um ano antes daquela foto, ele me negou que eu tivesse sido adotada. Então por que minha irmã diria aquilo?

Passei o final daquele ano com essa ideia na cabeça e comecei a questionar outros familiares. Foi então que as coisas foram se revelando: 

"Sim, você foi adotada, sua mãe lhe pegou no sul, ela queria muito uma menina, mas como não podia mais engravidar, ela lhe adotou. Mas aposto que ela te ama muito, porque ela sempre quis ter uma menina". 

"Sua mãe teve que retirar o útero quando seu irmão nasceu, porque teve complicações. Ela queria uma menina, aí quis adotar, mas seu pai não queria, então ela 'deu um jeito'. Ela se envolveu com uma amiga meio barra-pesada que 'arrumava' crianças no sul e apareceu com você em Brasília. Quem cuidou de tudo foi o advogado da família, que era muito amigo dela, mas ele já faleceu há muitos anos. Era ele que sabia da história toda. Mas pelo que me lembro, a sua mãe recebia até cartas de ameaças dessa mulher, que tentou chantageá-la depois. Você provavelmente era a irmã caçula de 12 filhos, e talvez até tivessem gêmeos entre seus irmãos. Acho que você nasceu em Foz do Iguaçu em 9 de Julho, não sei se de 1979 ou 1980. Ninguém sabe ao certo como ela fez. Se ela te comprou, te roubou, ou o que foi. Só sei que não foi uma adoção legal. Seu nome acho que era Janaína..."

Essas revelações, vindas de parentes muito próximos a minha mãe, foram um grande choque para mim, ao mesmo tempo que eram respostas a muitas dúvidas e acontecimentos de toda a minha vida. Mesmo sabendo que tinha algo errado, eu não imaginava que podia ser tão errado. Aliás, sim, eu podia imaginar qualquer coisa vindo da minha mãe, porque ela já tinha me provado do que era capaz, tanto que eu não falava com ela já fazia mais de três anos. De repente, me vi como uma personagem de novela das oito, envolvida em uma história cheia de mentiras e intrigas. E se eu tivesse sido roubada? Como mãe, fiquei imaginando o sofrimento da minha mãe biológica, que pode ter me perdido e que, se ainda for viva, pode ainda estar sofrendo, ainda com a esperança de um dia me encontrar... Eu também posso ser filha de alguém muito pobre que quis me vender, ou posso ser filha de uma prostituta que me abandonou. Seja qual for a história, meu único desejo era saber a verdade, é um direito meu. O primeiro impulso foi ligar ao meu pai e questioná-lo por que ele me mentiu quando lhe perguntei da adoção. Quando confrontei-o por telefone, dizendo que já sabia a verdade, ele confessou, me pedindo desculpas pela mentira, mas ele tinha prometido que nunca me contaria nada. Mas sim, ele confirmou que a minha mãe adotiva 'apareceu' comigo em Brasília, que ele só sabia que ela tinha me pego no sul, mas não tinha ideia de como ela tinha feito isso. Ela lhe disse que tudo estava resolvido e que bastaria eles me registrarem. Ele me levou então a um pediatra que "chutou" a minha idade, dizendo que eu devia ter perto de um ano e eles fizeram uma certidão de nascimento com todos os dados falsos. Ter a confirmação disso foi ainda mais atormentador para mim, e foi montando o quebra-cabeças na minha mente. Janaína? Apesar de não achar nada demais nesse nome, eu sempre o utillizei em todas as minhas brincadeiras de infância, talvez fosse o meu subconsciente que o guardou na memória. Ser do sul? Eu nunca me senti pertencente ao Rio de Janeiro, apesar de ter sido criada lá e quando fui morar no Rio Grande do Sul, me identifiquei muito com aquela terra. Não conheço Foz do Iguaçu, mas sempre tive uma atração especial por toda a região sul do Brasil. E no fim eu sou do sul... Não contei nada a ninguém, apenas parei para conversar sobre tudo aquilo com meu companheiro. E foi então que outras verdades começaram a surgir...

Quando você espera que a pessoa que está ao seu lado por quase dez anos, a pessoa para quem você dedicou 1/3 da sua vida te apoie em um momento tão difícil, o que essa pessoa faz? Ela diz que você apenas tem que "superar" os traumas e seguir adiante, porque os seus problemas não podem atrapalhar os planos dela... É fato que já estávamos em crise há alguns meses, pois as dificuldades que enfrentamos na nossa mudança para Portugal começaram a revelar algumas coisas que antes eu não conseguia perceber. E foi essa minha "crise" pessoal, esse perder o chão sobre a minha origem, ficar no escuro, sem saber absolutamente nada do que realmente aconteceu, que desencadeou uma crise ainda maior entre nós. Eu estava sozinha, sem ninguém com quem pudesse apenas conversar sobre aquele turbilhão de emoções que me assombravam. Tentei seguir firme, pela família, e em 2015 tive uma experiência muito estranha em relação ao meu aniversário: no dia 9 de Julho estávamos em Paris, em uma viagem onde tentávamos recuperar a relação, e, apesar de não termos condição alguma para comemorações, fingimos que era meu aniversário e recebi os parabéns dos meus filhos. Mas, além desta incerteza da data de nascimento, eu tinha uma incerteza ainda maior, que era sobre estar ao lado de alguém que não se importava com o que se passava comigo. Alguém que não me amava de fato, mas amava a vida que conseguia ter comigo. E foi na minha data de aniversário falsa, o antigo 10 de setembro, que chegou o ponto final, quando peguei os meus filhos pelo braço, com a roupa do corpo, e vim embora para Lisboa, depois de algumas semanas da nossa volta da viagem de tentativa de recuperação. Naquele dia, ainda recebi os parabéns de muitas pessoas, afinal era a data que eu passei trinta e quatro anos comemorando... Ainda cheguei a, uns dias depois, receber dos meus filhos um bolo de aniversário com velinhas, para cantarmos o parabéns, já que não tínhamos feito isso em Julho.

Após muito tempo para digerir tanta informação, para assimilar todas as verdades que me surgiram em um ano, depois de uma vida inteira cercada por mentiras e mentirosos, eu finalmente consegui me assentar e me tranquilizar com os fatos. Conversando com alguns amigos mais chegados sobre tudo isso, alguns disseram que eu deveria escrever um livro, e isso já foi feito. Outro amigo, que soube recentemente da história, emocionou-se e me disse que não á algo que a gente simplesmente possa enterrar, como o meu ex-companheiro me sugeriu. O significado de "mentira" ganhou uma conotação totalmente diferente na minha vida. Eu nunca gostei de falsidade, sempre tive problemas para lidar com pessoas mentirosas, e agora ainda mais busco me cercar apenas de gente que tem a capacidade de falar a verdade, seja ela qual for. Também hoje em dia, acabo por contar a verdade a todo mundo, não tenho mais medo de falar nada, nem vergonha do meu passado. Por isso, apesar de algumas pessoas mais chegadas já saberem dessa história, eu decidi escrever sobre isso e contar o que aconteceu, porque esse ano decidi comemorar meu aniversário na data provável do meu nascimento, o 9 de Julho. E alguns amigos ainda se confundem. Como assim, não era Setembro? O signo de câncer tem uma infinidade de características da minha personalidade, me define e me descreve quase que na perfeição. E, mesmo não tendo certeza da data, ela é mais próxima da verdade do que o 10 de setembro, inventado em um registro falso. 

E hoje completa-se uma semana que comemorei pela primeira vez o meu aniversário em Julho. Foi uma sensação muito boa, porque no ano passado foi como se eu não tivesse tido aniversário. 36 anos e a gratidão por ter descoberto a verdade, antes tarde do que nunca. A gratidão por ter tudo acontecido da forma como aconteceu, porque no fim das contas, se a minha mãe adotiva não tivesse me levado para Brasília e me criado no Rio de Janeiro, eu provavelemente não estaria onde estou hoje. Não me arrependo de nada do que vivi até aqui e não posso reclamar: chego aos 36 com uma filha de 12, que é minha melhor amiga, minha companheira eterna, e um filho de 5, que é o meu príncipe, sempre pronto para me alegrar. Comemoro este meu primeiro aniversário "real" com a certeza de que os meus projetos acontecerão, porque dependem da minha força de vontade e da minha fé, que não me faltam nunca... Gratidão por ter superado toda a mentira que me envolvia, por ter tido força para encarar todo este turbilhão emocional e me mantido sã para continuar criando meus filhos. Chego aos 36 com a gratidão de já ter podido fazer muitas vezes o que mais amo na vida: viajar e ir a shows, e com a certeza de que ainda os farei muito mais...

Na verdade, para quem diz que a vida começa aos 40, eu tenho que discordar, porque ainda faltam 4 anos para eu chegar lá e já vivi várias vidas dentro de uma... E, apesar de ainda não saber a minha origem, hoje talvez esteja vivendo a melhor de todas as minhas vidas: uma vida de verdade, de liberdade e de amor...

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Porque a vida é feita de momentos...

As pessoas normalmente "contam" as suas vidas em semanas, meses e anos... Eu prefiro ser como as borboletas, que contam momentos, e tem tempo suficiente. Sim, para mim são mais importantes os momentos, e em poucos dias é possível termos tantos momentos incríveis, que valem às vezes por vários meses... Foi assim o meu último fim de semana, a minha "escapadinha" para a França, uma viagem vapt-vupt de cinco dias para cobrir o Hellfest Open Air e visitar amigos.


sexta-feira, 6 de maio de 2016

E assim começou a minha sexta-feira...

Estava eu na sala do nosso pequeno espaço em uma garagem perdida de Lisboa, às oito da manhã, e me deparo com uma visita inesperada: um rato! Momentos de tensão para mim e para ele, enquanto as crianças dormiam. Eu, que nunca tive coragem de matar ratos, mato apenas moscas e mosquitos, e olhe lá baratas (aaargh), tinha que expulsar o intruso de alguma forma. Com a vassoura na mão e muita vontade de gritar, travei uma luta, quase que um jogo de esconde-esconde com o bicho que, mais assustado do que eu, se enfiava debaixo dos móveis. 

Depois de longos instantes, consegui finalmente empurrá-lo porta afora com a vassoura e ele despencou das escadas, o que acredito ter causado a sua morte. Ficou ali o corpo inanimado estirado ao chão e eu desatei a chorar pela morte do rato e, sobretudo, pela tormenta de emoções e sentimentos que andam a relampejar dentro de mim. E o pequeno rato ainda me trouxe à mente a recordação de episódios da minha infância, quando vivia em casas que mais se pareciam com chiqueiros (talvez seja um insulto com os porcos chamar algumas casas onde vivi de chiqueiros), e ouvia aterrorizada os gritos dos ratos quando os adultos os matavam. 

Chorei pelo rato, chorei pela menina assustada de 25 anos atrás, chorei pela filha que sonha em conhecer a mãe, chorei pela mãe que sonha em dar uma casa de verdade aos seus filhos, chorei pelos filhos sem um pai presente, chorei pela menina que se transformou mulher, mas que ainda é uma menina, chorei pela mulher que ainda acredita no amor, mas que não pode vivê-lo. 

Um simples rato desencadeou um tsunami dentro de mim. E assim começou a minha sexta-feira...


terça-feira, 8 de março de 2016

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016